O remake de "O Astro", originalmente escrito por Janet Clair em 1977, estreou essa semana na Globo. A macrossérie maquiada de novela 11 foi descrita nos comerciais da emissora como algo diferente do já feito por Janet décadas atrás e, prometia estrear uma nova faixa de horário nobre na grande emissora global, mas como todo mundo viu, nada disso aconteceu.
Fato que o mercado vem passando por uma crise criativa que ainda é leve, mas pode aumentar com o passar dos anos e com o nível de resistência e as barreiras impostam pelas emissoras nacionais em aceitar novos caminhos para o entretenimento de massa. De posse disso, tenho a nítida impressão que novo folhetim da Globo, debochadamente apelidado de "O Mastro" nas redes socais e por blogueiros famosos da web, está perdido no tempo, há décadas quando a trama era exibida no canal havia público para esse tipo de história hoje em dia, não.
Vamos e convenhamos, duas mulheres solteiras e bem sucedidas saírem de suas casas para ver um show de mágica num fim de semana, com certeza não causará empatia com público jovem/adulto, que vem sendo o principal alvo das atrações exibidas pelo canal de uns tempos pra cá. Sem falar num herdeiro que vende o próprio carro para dar de comer aos pobres e renega o dinheiro do pai supostamente ausente, dizendo que é "dinheiro sujo". Esse discurso era do tempo em que os verdadeiros hipes habitavam o mundo. Onde a paz e amor eram mais do que um simples slogam da industria publicitária pra vender mais refrigerente. Onde que isso vai funcionar hoje em dia meu Deus.
Um elenco de peso interpretando personagens pensados para serem vividos há anos atrás. Certo que existem histórias que são atemporais como é caso da personagem Clô Hayala vivida por Regina Duarte. Uma mulher frustrada no casamento que busca a felicidade nos braços de uma amante bonitão e mal caráter interpretado por Henri Castelli, que por sua vez é bissexual e tem um suposto caso/relacionamento aberto com o seu companheiro de bandidagem interpretado João Baldasserine.
A aproximação dos dois personagem fica mais evidente a cada episódio, mas não se empolguem muito, não deve passar de insinuações e troca de olhares maliciosos. Esse triângulo amoroso às avessas é junto com as esperanças de que a personagem interpretada pela atriz Aline Morais (Lili) seja uma revelação grandiosa nos episódios que vem a seguir, que me fazem continuar prestigiando a atração.
O casal principal da trama, o Herculano Quintanilha e Amanda Assunção, vividos por Rodrigo Lombardi e Carolina Ferraz respectivamente, não tem entrosamento. Os diálogos cheios de frases rebuscadas e trechos de obras da literatura brasileira causam pouco impacto no público, que por diversas vezes fica com a sensação de ficar no vácuo. O casal em cena parece apático, cada um na seu mundo, em outros nomes, sem graça, sem sal.
Pelo visto a escassez de bons casais no horário dantes nobre vem atingindo a Globo, vide o caso do casal Marina e Pedro em Insensato Coração, pensado para ser o grande centro das atenções do folhetim das 9, a dupla só consegue arrancar críticas pelo nível de frieza e pouco sentimento envolvido ali. Forçando os autores à buscar meios alternativos para suprir essa necessidade de coisa não necessariamente nova, mas que chame a atenção por polemizar, por mostrar a real natureza humana, como é caso da personagem Norma interpretada por Glória Pires, e o mal caráter Leo, vivido por Gabriel Braga Nunes.
O público não precisa de mais uma refilmagem de um clássico que foi estouro de audiência em épocas passadas. O telespectador precisa se ver representado na tela da tv. Nós precisamos nus enxergar dentro da trama, enxergar nossas virtudes e defeitos sendo reveladas. Esse é o princípio da novela, não é? Contar a história pensada pelo autor misturando com a realidade que nus cerca. E se não for para fazer isso, por que afinal de contas continuar fazendo novelas?